Entre jovens que se destacam em circuitos de competição, ingressar em um curso superior de dança costuma ser visto como o passo natural após anos de ensaios e troféus. No entanto, a rotina acadêmica introduz mudanças que exigem adaptação de mentalidade, prioridades e método de treinamento, como relatam dois ex-vencedores do The Dance Awards e uma gestora universitária.
Retorno ao essencial
Após conquistar o título de Senior Female Best Dancer no The Dance Awards Nationals de 2024, Sierra Drayton iniciou o primeiro semestre na Purchase College, da State University of New York, empolgada – mas encontrou obstáculos inesperados. “Foi bem difícil no começo”, admite. Longe de casa, ela precisou lidar com técnicas totalmente novas. “Nunca tinha feito aulas de dança moderna, então eu não sabia os termos corretos nem como iniciar os movimentos a partir da coluna”, recorda. Até mesmo o balé, disciplina familiar, ganhou outro ritmo. “Na faculdade tudo é mais lento e focado em fundamentos, o que leva a analisar como o corpo assimilou a técnica desde o início”, explica.
No outro extremo do país, Isaiah Villegas – eleito Senior Male Best Dancer em 2023 – teve experiência parecida no primeiro ano da Glorya Kaufman School of Dance, da University of Southern California, em Los Angeles. “No meu estúdio, eu relaxava nas aulas de técnica; o foco era ensaiar para competir”, conta. Agora, com balé diário às 9h, ele diz que precisou “ficar 100% atento para realmente aproveitar”. Embora dance menos horas do que no período de competições, afirma ter redescoberto o prazer de aprimorar a própria técnica.
Do troféu ao processo
Interina da School of Theatre, Film, and Animation da Point Park University, em Pittsburgh, Kiesha Lalama percebeu que muitos calouros vindos do mundo das competições enfrentavam frustração nos primeiros meses. Para entender a causa, passou dois anos como jurada nesses eventos. “Eles estão habituados a ensaiar durante a semana, sentir a adrenalina no palco no fim de semana e voltar para casa com um troféu”, observa. Na universidade, a exibição de fim de semestre pode demorar meses, eliminando a gratificação imediata.
Lalama ressalta, porém, que esses estudantes trazem qualidades valiosas – narrativa, coragem e capacidade de adaptação. “Quando trocam o foco do resultado pelo processo e encontram motivação interna, tudo se encaixa”, afirma.
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Competição que vira parceria
No ambiente universitário, as rivalidades tendem a ceder espaço ao espírito de colaboração. Villegas se surpreendeu ao reconhecer diversos colegas das competições. “Alguma energia competitiva persiste, porque é o que fizemos por muito tempo”, comenta. “Mas agora usamos isso para nos desafiar de forma saudável.”
A mudança do palco para o espelho também pode intensificar a autocrítica. Acostumados a medir o sucesso por notas de jurados, alguns estudantes extrapolam as cobranças internas. “Lembro meus alunos de que a perfeição não é mais a meta. O importante é o aprendizado artístico ao longo do caminho”, reforça Lalama.
Reconhecimento que vale a espera
Lalama acredita que as descobertas feitas durante a graduação podem ser tão gratificantes quanto um título de competição. Drayton comprovou isso ao retornar ao The Dance Awards um ano depois para entregar sua coroa, interpretando o solo vencedor de 2024. “Após todo o trabalho do primeiro ano, senti que minha alma vibrava de outra forma; eu não dançava pela aprovação de ninguém, só por mim”, descreve. Para ela, compreender a própria identidade artística supera qualquer medalha.
Com informações de Dancespirit